quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TRACÇÃO ÀS DUAS RODAS – COM UNHAS E DENTES

Nº66 MOTO REPORT Junho 2007
2WD – que é como quem diz: Two Wheel Drive (tracção às duas rodas). A primeira tendência é estabelecer um paralelo imediato com os automóveis 4X4, todavia, nas motos, o tipo de utilização e as prestações obtidas são algo distintas. Apesar de ser uma configuração ainda afastada dos circuitos comerciais, esta variante mecânica dos veículos de duas rodas existe há já vários anos. A MOTO REPORT desvenda hoje algumas curiosidades sobre a transmissão de potência às duas rodas, que, nalguns cenários, se revela plena de vantagens.

A Técnica
A transmissão de potência à roda da fren­te já foi experimentada de duas maneiras:
- Através de transmissão mecânica, como sejam as correntes ou os veios de trans­missão.
- Através de transmissão hidráulica, onde uma bomba pressuriza o óleo que é envia­do, por uma tubagem semelhante à do cir­cuito de travões, até um motor hidráulico que está no interior do cubo e que transmi­te assim essa potência à roda dianteira.
Especulações e ensaios sobre este con­ceito mecânico já são muito antigas. Em 1924 surge o primeiro registo de uma moto 2WD. Era uma Raleigh e utilizava o método mecânico. Treze anos mais tarde, em 1937, um protótipo da FN apresentava grandes avanços tecnológicos ao utilizar “somente” duas correntes para transmitir potência à roda dianteira distribuin­do equitativamente a potência a am­bas as rodas. Nas construções mais recentes optou-se por atribuir à roda dianteira cerca de menos 5% da po­tência, pois com este desvio, conse­gue-se uma sensação mais natural para o condutor, tanto na aceleração como na desaceleração, sendo pos­sível colocar a roda traseira a derra­par para auxiliar entradas em curva a grande velocidade, por exemplo, em competições fora de estrada.
Ambos os sistemas têm vantagens e inconvenientes. As transmissões me­cânicas têm pelo menos três corren­tes, requerendo maior disponibilidade em termos de tempo para afinar, lubrificar e substituir. Naturalmente im­põem maiores restrições ao nível do uso da direcção (especialmente para a bloquear), obrigando a passagens de caixa menos precisas e tornando a suspensão menos eficaz pelas exi­gências ao nível da concepção.
Os sistemas hidráulicos são mais onerosos, e tornam as motos mais pe­sadas (pelo menos mais seis quilos se estiver equipada com componen­tes usados em competição, caso con­trário será mais ainda). Apresentam também a desvantagem de a moto não poder ser empurrada com o mo­tor desligado caso não possua uma válvula de bypass entre a bomba e o motor.

KTM 525 EXC
O fabricante austríaco KTM desenvol­veu a sua própria versão de uma moto de tracção integral, a qual foi publicamente apresentada em 2004. Em parceria com a Ohlins, a KTM adaptou o modelo de enduro 525 EXC, sobretudo pela sua po­tência e binário, para uma versão 2WD. A solução passou pela introdução de um pequeno motor no cubo da roda da frente que, ao ser injectado com óleo, transmi­te a potência vinda do motor para o eixo dianteiro.
Esta moto permite acelerações muito mais agressivas à saída das curvas sem o perigo de a roda de trás começar a der­rapar. Todavia, é mais difícil direccionar a frente da mota para o interior da curva, criando a intersec­ção natural entre o seu exterior e inte­rior (manobra que permite o desenho de uma trajectória correcta), dado que am­bas as rodas estão em aceleração. Este sistema, segundo Kurt Nicholl da KTM, be­neficia mais os condutores inexperientes, uma vez que os profissionais estão perfei­tamente habituados a ter a traseira da moto a derrapar na maior parte do tempo.
Yamaha WR450F
Também em 2004, a Yamaha apresentou a adaptação para 2WD do seu popular mo­delo WR450F. Sob a designação 2-TRAC (a tecnologia foi inicialmente ensaiada na R1 e com piso molhado), demonstrou estar mais à vontade para curvar do que a versão original. O sistema 2-TRAC tem sido usado por diversas vezes em provas de enduro desde 1998. À semelhança do que acon­tece na KTM, a WR450F utiliza um peque­no motor inserido no cubo da roda o qual é operado hidraulicamente. Porém, a trans­missão de potência não é constante. Quan­do, por exemplo, numa aceleração brusca, a roda de trás tende a começar a derrapar, é transmitida mais potência à roda da frente e esta vai re­cebendo cada vez menos potência à medida que a roda de trás inicia o processo de recuperação de tracção. Contudo, e no limite, nunca a roda da frente recebe mais potência que a de trás, sob circunstância alguma. Isto permite que nunca se perca o controlo da direcção.
O Futuro
Perante a longa existência de motos 2WD, e apesar do seu custo não ser demasia­do elevado face aos modelos originais, as vantagens para o utilizador comum prova­velmente não justificam a sua aquisição. Se assim fosse, o mercado já teria sido inundado há uns tempos, com mais este gadget, pelos principais fabricantes mun­diais. Mesmo na competição, as apostas nesta ousada tecnologia acabam por ser escassas e mesmo um pouco tímidas aca­bando por ter principalmente efeito ao nível do marketing.
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© General Moto, by Hélder Dias da Silva 2008

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