sexta-feira, 17 de outubro de 2008

IGGY POP - O PADRINHO DO PUNK ROCK

Nº73 MOTO REPORT Janeiro 2008

James Newell Osterberg Jr., actualmente com 60 anos de idade, assistiu em 1967 a um concerto dos The Doors, na Universidade do Michigan, que o haveria de influenciar para o resto da vida. Em vez de copiar a atitude de Jim Morrison em palco, optou por fazer desse o seu ponto de partida, exagerando-o e distorcendo-o até ao limite.

Iggy Pop é um cantor rock e, ocasionalmente, também actor.
Começou a sua carreira musical como baterista em diversas bandas do ensino secundário em Ann Arbor, no Michigan. Uma dessas bandas foram os “The Iguanas”, donde terá adaptado o seu pseudónimo Iggy. Depois de explorar bandas locais de blues, como os Prime Movers, acabou por sair da Universidade do Michigan e mudou-se para Chicago para aprender mais acerca desse estilo musical. Inspirado pela onda do Chicago Blues, assim como pelas bandas “The Sonics e The MC5, formou os Psychedelic Stooges, passando nessa altura a ser denominado de Iggy Stooge.

As suas performances ao vivo sempre foram míticas e… caóticas. Aos seus movimentos frenéticos em palco juntam-se outras exibições de cariz mais radical como sejam vomitar, despir-se, mutilar-se com objectos cortantes e ainda o bem conhecido stage-diving (o mergulho do palco para a multidão do qual é, em abono da verdade, o seu inventor).

Nesta fase, os problemas de Iggy Pop com as drogas agudizaram-se. A sua dependência de heroína terá sido inclusivamente o motivo de separação da banda logo após a saída do segundo disco (agora com o nome abreviado para The Stooges). Para mais, as vendas até à data haviam sido fraquíssimas, segundo os critérios da Elektra Records.

David Bowie juntou-se ao colectivo para ajudar a produzir o terceiro álbum do grupo. Contudo, com a banda absolutamente instável devido ao álcool e às drogas, o seu talento acabou por não sobressair. A dada altura, neste período, durante um concerto, a banda envolveu-se em confrontos físicos com um grupo de bikers (documentado no registo ao vivo Metallic KO), e a sua carreira foi então suspensa por alguns anos.

Em 1975 Iggy Pop falhou, pela primeira vez, em superar a sua adiçãodependência, já que esteve internado no Instituto Neuropsiquiátrico da Universidade da Califórnia em Los Angels, onde David Bowie – que era uma das suas visitas regulares – acabou por, nalgumas ocasiões, lhe entregar precisamente… mais droga. Em 1976 deu entrada numa clínica psiquiátrica em Berlim para uma tentativa de se reabilitar de vez dos vícios de que padecia. David Bowie radicou-se também em Berlim, por essa altura, e terá continuado a ser uma das poucas visitas de Iggy Pop na clínica.

Em 1977 Iggy Pop lançou dois álbuns em nome próprio. São trabalhos basilares da sua carreira a solo, e contam com a intensa intervenção de David Bowie na produção, tendo também tocado teclados ao vivo. Temas como “The Passenger” e “China Girl” (este último mais popularizado por Bowie alguns anos depois) são fruto deste período de trabalho em parceria. Pop haveria de contribuir, também nesse ano, com coros e vocalizações incidentais para o álbum Low do seu amigo e produtor britânico.

Entre 1979 e 1981, deu-se o lançamento de New Values, Soldier e Party, sendo que o primeiro deles conta com a participação do guitarrista dos The Stooges, Scott Thurston. Os dois últimos trabalhos foram ambos fracassos comerciais. Por seu turno, a toxicodependência de Iggy Pop tinha abrandado, mas não desaparecido.

No decurso da década de oitenta havia ainda de trabalhar com Steve Jones (ex-guitarrista dos Sex Pistols), com quem fez uma versão bem sucedida do tema “Wild One (Real Wild Child)”, original de Johnny O’Keefe, editado em 1959.

Os anos noventa trouxeram sete trabalhos em nome próprio (quatro originais, um ao vivo, e duas compilações) e um disco com os The Stooges. Esta é também a década onde se deram as principais incursões no cinema, quer por via da representação, quer por via das bandas sonoras, como foi o caso de Trainspotting onde “Lust for Life”, tema-título de 1977, foi incluído.

Já em pleno século XXI, Pop mantém-se pleno de actividade e criatividade, interagindo em várias ocasiões com diversos artistas, ora como convidado, ora como anfitrião, como sejam os casos de Madonna e Green Day, respectivamente.

Iggy Pop é, ou foi, ao longo do tempo, influência artística para muitos compositores. Desde os Joy Division aos Nine Inch Nails, ou de Mark E. Smith a Henry Rollins. Nick Cave e Jack White mencionaram ambos que Fun House, dos The Stooges, terá sido dos melhores álbuns rock de sempre. Já os Red Hot Chili Peppers fizeram referência a Iggy na sua canção “Coffe Shop”. Kurt Cobain, fã confesso dos The Stooges, referiu que Raw Power era o seu disco favorito da banda.

The Passenger é um filme biográfico sobre a juventude de Iggy Pop e o início dos The Stooges que está neste momento a ser produzido, pelo que chegará previsivelmente às salas de cinema durante 2008. Elijah Wood (o Frodo de O Senhor dos Anéis) encarnará a personagem do punk-rocker, tendo sido obrigado a perder uns quilitos para que o papel lhe assentasse que nem uma luva. Aguardemos.
DISCOGRAFIA
Com os The Stooges:
1969 - The Stooges
1970 - Fun House
1973 - Raw Power
1977 - Metallic K.O.
1995 - Open Up and Bleed
2007 - The Weirdness
A solo, em estúdio:
1977 - The Idiot
1977 - Lust for Life
1979 - New Values
1980 - Soldier
1981 - Party
1982 - Zombie Birdhouse
1986 - Blah Blah Blah
1988 - Instinct
1990 - Brick by Brick
1993 - American Caesar
1996 - Naughty Little Doggie
1999 - Avenue B
2001 - Beat 'Em Up
2003 - Skull Ring
A solo, ao vivo:
1978 - TV Eye Live 1977
1994 - Berlin 91
1996 - Best Of...Live
Compilações:
1996 - Pop Music
1996 - Nude & Rude: The Best of Iggy Pop
2005 - A Million in Prizes: The Anthology

Citação:
«Se penso na minha pila? A toda a hora.»

in Rolling Stone
Ora, quem diz a verdade não merece castigo!

Imperdível no You Tube:
Uma entrevista desconcertante, onde Iggy Pop se apresenta em estúdio visivelmente alterado, mostrando o quão genial ele é a inventar desculpas esfarrapadas para as maleitas físicas que vai exibindo. Sem complexos e sem comentários…
IGGY POP INTERVIEW TOM SNYDER SHOW 1980
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© General Moto, by Hélder Dias da Silva 2008

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