quarta-feira, 24 de setembro de 2008

GÓIS 2006, XIII CONCENTRAÇÃO - EU FUI

Nº57 REVISTA MOTO Setembro 2006

Este é um evento que já criou o seu próprio espaço no âmbito das concentrações de motociclistas em Portugal. Pela sua originalidade, pelos seus valores, pela sua organização e pelos encantos da terra que lhe serve de berço. Assume-se como a alternativa. E consegue-o. A “Capital do Ceira” foi entre 17 e 20 de Agosto, pese embora a chuva que se fez sentir nos primeiros dias, o ponto de encontro de muitos amantes das duas rodas. Cerca de 15 mil inscritos, segundo apurámos.

Após o ritual de iniciação do primeiro ano na Concentração de Góis facilmente nos tornamos “habitués”. E por mais que queiramos recordar ou descrever, há uma aura bucólica naquele local que, com o passar do tempo, nos vai despertando a saudade. Daí que quem tem por hábito ir a este encontro todos os anos, no regresso já vai firmando interiormente o compromisso consigo mesmo de querer voltar no ano seguinte. E, de preferência, com mais um amigo! É pela viagem em si, mas também é pelas memórias dos bons momentos por lá vividos. E, claro está, também é pelo convívio. Enfim... é pelo prazer. Num ambiente pacato o quanto baste, mas com animação intensa e diversificada, todos quantos por lá passam fazem destes dias uma imensa festa. E depois, como já se sabe, há coisas que são contagiosas. Neste caso foi a boa-disposição. O difícil mesmo era não nos deixarmos envolver por ela. Por tudo isto e por muito mais, cumpriu-se mais esta edição da Concentração de Góis. A 13.ª. A provar que nesta vida todos os números são de sorte. Assim nós o queiramos.

Kussondulola
“Tá-se bem” é simultaneamente o nome do primeiro trabalho discográfico da banda de Janelo da Costa e o lema que, um pouco por todo o lado, vem resumindo o espírito que se vive na Concentração de Góis. Tanto assim é que esta coincidência, mais cedo ou mais tarde, tinha de dar em casamento. E assim aconteceu este ano. O som dos Kussondulola foi perfeito para os momentos alegremente descontraídos que se viveram no início da noite de sexta-feira, apesar da banda parecer um pouco tensa, com muitos músicos novos, e talvez ainda pouco rodada. No entanto, deram mostras de ser o expoente máximo do reggae que se faz em Portugal. E de igual modo, o colectivo também provou que este ritmo combina com o espírito livre que se vive num encontro deste género. Enrolaram o público nas suas vibrações positivas – “Dançam no Huambo” e “Perigosa”, entre outras – acenderam o rastilho e passaram aos próximos...

Clã
O som dos Clã não é totalmente óbvio. É requintado. Tem classe, sem deixar de, nos momentos certos, ser forte e dinâmico. A banda, por regra, escusa-se a utilizar guitarra. Em vez disso Hélder Gonçalves faz do seu baixo um instrumento com uma sonoridade híbrida, cava, rouca, saturada até, o qual é tocado de uma forma pouco habitual. Por vezes confunde-nos. Soa a guitarra... Já o charme de Manuela Azevedo é um excelente complemento à sua voz doce que nos parece sussurrar ao ouvido para logo a seguir explodir, sem rodeios, numa raiva contida mas directa. Assim é este curioso Clã, e assim foi a sua actuação na noite de sexta-feira. “H2Omem”, “Sopro do Coração”, “Dançar na Corda Bamba” não deixaram margem para dúvidas. A banda interagiu com público e este não se ficou atrás, correspondendo ao repto. E quando as actuações acontecem em duas frentes, nada mais há a dizer.

Boss AC
Boss AC é um resistente. Sempre acreditou na sua vocação. Desbravou, desde a década de 90, um longo caminho até se tornar hoje num dos principais nomes do hip-hop a nível nacional. Muitos sacrifícios, muitas privações, muita força e muita coragem, tornam a sua mensagem autêntica. Esteve muito bem na noite de sexta-feira. Lançou sobre a audiência uma onda de energia muito positiva. Ao som de “Generate Power” todos se deixaram contagiar pela presença e pelo talento deste guerrilheiro urbano, que à sua maneira nos vai mostrando a importância de lutar quando se tem um ideal. Pena é que a chuva tenha afastado parte do público durante a sua actuação. Mais uma vez o São Pedro não deu tréguas.

Arya
Os Arya concederam a todos quantos estiveram em Góis o privilégio de ouvir, pela primeira vez, as músicas do seu novo trabalho, intitulado “Dancing Among the Tribes”, antes da saída do mesmo. O single “Say My Name” trouxe de volta um hard rock quente e vigoroso, que fez as delícias dos incondicionais do género.
Os Arya são músicos experientes. De tão rodados que estão é-lhes fácil empolgar uma qualquer audiência, desde que esteja receptiva a um bom hard rock cantado em inglês. Eles sabem cumprir todos os cânones que ditam a fórmula do sucesso deste estilo musical, pelo que na noite de sábado, e com uma plateia tão sedenta destes ritmos, as suas composições, irrepreensivelmente fiéis ao género, aqueceram o público que os ouvia.

The Gift
Os anos vão passando por todos nós e os The Gift já levam 12 anos de vida, feitos precisamente neste mês. Sónia Tavares é detentora de uma voz muito peculiar, a qual se coaduna de forma original com o som que a banda criou. Juntos encheram de luz e melodia o espaço da Concentração de Góis. A sua humildade e competência só vêm confirmar o mérito que têm e o porquê de tantas distinções. O público pediu mais e eles regressaram. Tocaram, pela segunda vez nessa noite “Music”. E sem precisarem de mais palavras, mostraram-nos qual é afinal o seu segredo. O seu sonho. Está tudo nos versos desta canção.
Paulo Gonzo
Paulo Gonzo, personagem da linha dura da música portuguesa, fundou o seu passado musical no blues, o qual foi, aparentemente, renegado aquando da opção estilística em 1992 de passar a cantar em português. Mas há marcas que hão-de perdurar para todo o sempre. Até com o Paulo Gonzo de 2006. Ele não resiste a uma piscadela de olhos à sonoridade “bluesy” que sempre o interessou. Mesmo nas composições mais recentes o feeling está lá todo. O concerto de encerramento da noite de sábado foi uma reconfirmação do seu talento e do seu passado. Paulo Gonzo foi desfiando, como se esperava, o novelo dos êxitos da sua carreira, deixando sempre espaço para inserir os temas do seu álbum homónimo do ano passado. A sua entrega foi total. A nossa rendição também.
Espaço Radical
É crescente a aposta que a organização tem vindo a conceder a este espaço. E não será caso para menos pois a procura também aumenta de ano para ano. Quem quis animação, aqui encontrou-a de certeza. Os radicais aproveitaram a oportunidade para saltar a 65 metros do chão no Bungee Jumping. A custo zero! Esta diversão estava integralmente incluída na entrada do evento. Tudo correu, como seria de esperar, sem incidentes, e os participantes não conseguiam esconder o esgar de contentamento quando terminavam. E nem mesmo nós da Revista Moto deixámos de vencer o “medinho” e lá nos aventurámos a um mergulho no vazio. Grande equipa! A provar que está onde é preciso... e a 100%! Fora isso havia também o Air Bungee para os mais moderados. Não vou mencionar nomes...
Tenda Electrónica
Depois das actuações em palco, este espaço garantia animação pela madrugada fora. Movimento era a palavra de ordem.
Festa da Espuma
Originalidade e inovação. Foi diversão em grande nas tardes de sexta-feira e de sábado. Para preparar o pessoal para as grandes noitadas...
Feira
Como habitualmente o espaço reservado para a feira tornou-se ponto de passagem obrigatório para todos quantos participaram neste encontro. Por aqui havia de tudo um pouco. Desde vestuário e adereços generalistas, a acessórios para motos, vestuário motard, tatuagens e piercings, não esquecendo os sempre oportunos “comes e bebes”. Para os mais esotéricos até havia até uma tenda para dar a conhecer o mapa astrológico.
A Organização
De uma maneira geral foi notório o reforço das infra-estruturas no local, o que permitiu melhores condições de higiene, alimentação melhor confeccionada e menor tempo de espera para se ser atendido nos diversos pontos de interesse espalhados pelo recinto. Os motivos de animação proporcionados aos visitantes têm vindo a aumentar de ano para ano, quer a nível quantitativo, quer a nível qualitativo. O livre acesso que o bilhete de entrada faculta a todos os divertimentos instalados no recinto (caso do Bungee Jumping) acaba por catapultar o êxito dessas iniciativas. Sob uma outra perspectiva, o clima absolutamente tranquilo e sereno que o evento deixa transparecer, faz com que nos sintamos “em casa”. Tudo tem o seu sítio e momento próprio para acontecer, há sempre alguém disponível para nos dar apoio e sabemos constantemente com o que podemos contar. Como se tudo isto não bastasse, a atmosfera criada é alegre e bem-disposta. Motivos mais do que suficientes para que toda a equipa da organização receba os nossos sinceros parabéns.
8.º Encontro Mini Hondas e 2.º Encontro Vespas
Com um programa específico que englobava um passeio pelo Vale do Ceira e pelo Vale da Ribeira do Sinhel, as Mini Hondas e as Vespas proporcionaram com o seu encontro mais um motivo de atracção na concentração de Góis. O apoio da Honda Motor Portugal no encontro de Mini Hondas revelou-se fundamental.
8.º Bike Show
Os Aço na Estrada inspiraram-se na época medieval para decorar o espaço do Bike Show deste ano. O resultado foi muito positivo, já que combinou bem com a imagem forte de algumas das motos em concurso. Notou-se uma redução significativa no número de motos em exposição, facto ao qual não foram certamente alheias, uma vez mais, as desajustadas condições meteorológicas para esta época do ano. Este ano não foi atribuído o prémio Best Bike uma vez que o júri considerou não haver nenhuma moto que se destacasse de sobremaneira das demais. Em vez disso foi atribuído o troféu Best Paint. Assinalamos também o facto de todos os troféus entregues este ano terem sido concebidos por um motociclista que, actualmente, se encontra privado da sua liberdade. Desta maneira ele demonstrou estar incondicionalmente com os seus companheiros de estrada e revestiu de significado os troféus que os premiados levaram para casa. Neste caso, que parece ser uma excepção no nosso pequeno Portugal, a reintegração deste recluso parece estar devidamente garantida. Bem hajam os responsáveis do Góis Moto Clube pelo apoio demonstrado.
Os resultados da análise do júri foram os seguintes:
Rat
1.º - Manuel Barros: Honda NX
2.º - Padacha: Harley-Davidson
Strange
1.º - António Dias: Yamaha
2.º - Idalécio Ventura: MotoCharrua
3.º - António Martins: Suzuki
Chopper
1.º - Fernando Carvalho: Honda CBX
2.º - Joseph Langley: Jo Boss
3.º - António Fernandes: Honda Shadow
Streetfighter
1.º - Mister Lobo: Suzuki GSXR
2.º - Carlitos Barbosa: Suzuki GSXR
3.º - Pedro Fonseca: Suzuki GSXR
Custom
1.º - Estrondo: Honda VT600
2.º - Pedro Telmo: Yamaha XV1600
3.º - Gualberto Sousa: Suzuki Marauder
Harley
1.º - José Bangueses
2.º - Abílio Lima
Best Paint
Estrondo: Honda VT600

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© General Moto, by Hélder Dias da Silva 2008

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