domingo, 14 de setembro de 2008

ATÉ FARO NA VIRAGO 535 – A MINHA PRIMEIRA VIAGEM, NA MINHA PRIMEIRA MOTO

TEXTO NÃO PUBLICADO
Diz o povo que o primeiro amor nunca se esquece. Pois eu acrescento de minha lavra, que nem a primeira moto nem a primeira viagem.

Em 2000, com oito meses de carta e sete de moto, eu e o meu compincha de muitos sonhos e aventuras, o Hugo, rumámos a Faro para visitarmos a concentração internacional. Ele na Suzuki RF600 e eu na Virago 535.
Como a moto dele andava muito mais que a minha, resolveu dar-me a dianteira para que fosse eu a impor o ritmo da viagem. A minha experiência em viagens pelas “nacionais” era nula. Por outro lado a moto também não ajudava. Travava mal, o ângulo de viragem era limitado, os pneus demasiado estreitos e a iluminação muito fraca. Daí que – e sublinho que a todas as limitações da máquina se juntava a minha inexperiência como mototurista – eu, por inúmeras vezes, trava e corrigia as trajectórias a meio das curvas, especialmente as da serra, já a chegar ao Algarve, às tantas da noite. Como a estrada não estava iluminada eu tentava adivinhar a curva, e a meio tinha de compensar a inserção, ou porque a moto não “queria” curvar, ou porque eu supus a curva mais larga e, afinal, era bem mais apertada. O Hugo ainda hoje diz que teve bastante medo pois estávamos constantemente a ser ultrapassados por caravanas de “erres” que desenhavam razias aos que circulavam mais devagar (nós!), portanto, com as minhas correcções “na hora” as contas podiam sair-lhes(nos) furadas.
Já em Faro, foi a loucura total. Belo fim-de-semana. Tanto de dia como de noite. Bom ambiente e muita risada, como daquela vez em que se destacou da multidão uma voz, num breve instante de pausa do apresentador seguida de silêncio da assistência (antes da “Miss T-Shirt” molhada), que bradou aos céus “Vai fazer b%*@#&s a cavalos” logo sucedida de uma gargalhada colectiva de milhares e milhares de pessoas.
Bom, mas agora um breve parêntesis sobre a moto.

VIRAGO 535

Foi amor à primeira vista, por isso mal a vi, comprei-a. Era de 1994, mas parecia mais nova e com menos quilómetros.

Mas, quando eu saía com ela, nunca sabia bem o que me ia acontecer. Uma vez foi o cabo de acelerador que partiu. Tentei-me convencer que podia ser “normal”. Depois, em plena CREL, o rectificador de corrente avariou, e eu nem assistência em viagem tinha. Valeu-me o Zé que largou o trabalho nessa tarde e veio em meu auxílio (obrigado ma men). Vinte contos resolveram o sarilho, ao que parece muito comum nas 535. Depois tive a triste ideia de lhe instalar um alarme. Ainda hoje não percebo a relação, mas desde então ela simplesmente não podia levar com água (chuva e lavagem) pois isolava sempre as velas. Perdi a conta às vezes que foram substituídas (algumas a muitos quilómetros de casa). No dia em que removi o alarme, tudo ficou como sempre deveria ter estado. O mecânico na altura explicou-me que tinha a ver com a massa…e mais não sei o quê…e eu “sim sim, tem a ver com a massa que me sai mas é do bolso”! Havia também uma fuga no colector do escape que me salpicava as calças com muitos pontinhos pretos. A resolução passava por montar outros escapes. Depois tive mesmo de substituir a corrente de distribuição e afinar as válvulas. O mecânico da Motopeças – um tal de Rui – teve a moto três (!!!) semanas na oficina e de cada vez que eu lá ia para levantar a moto, ela estava com um trabalhar completamente estranho. Vibrava o triplo, aquecia num instante, o ralenti era incerto, tinha perdido potência e afogava facilmente. Ele desculpava-se sempre dizendo que não percebia, que ela já lá tinha entrado assim, que era por ser velha e com muitos quilómetros (em seis anos nem aos cinquenta mil tinha chegado), e que eu a deixasse ficar lá mais uns dias para ele ver o que se passava. Resultado, ao fim de três semanas paguei setenta contos, levantei a moto, e fui deixá-la de seguida na extinta NRC Motos, onde as mãos hábeis, a inteligência e o ouvido atento do Luciano Firmo prontamente desvendaram o mistério: as novas correntes de distribuição tinham sido montadas ao contrário. Grande serviço do incompetente chefe de oficina da Motopeças. Bom, a Yamaha Portugal, à conta desta brincadeira toda, ainda teve de me devolver o valor da factura da NRC Motos. Afinal, eles é que resolveram a avaria causada pelos outros. Enfim…

Pese embora os azares, acho que este é um excelente modelo para um recém-encartado adepto do estilo cruiser se iniciar no aperfeiçoamento da sua técnica. É uma moto barata, económica, calma, e suficiente fiel ao estilo para o motociclista perceber se foi talhado para os “ferros” ou não.
O REGRESSO

Fui para lá com uma moto preta e vim de lá com uma moto castanha. Faz parte do pack “Concentração de Faro”. Tendo o regresso sido feito de dia, a viagem foi menos atribulada. Chegado a casa, exausto mas satisfeito, tive a certeza de que as maiores e melhores viagens da minha vida haveriam de ser feitas de moto. Ainda hoje penso assim.

Deixo-vos com as únicas fotos que tenho dessa viagem, e da moto. No ano seguinte ela passaria para outras mãos (creio que me entendem porquê). O mesmo aconteceria com a RF do Hugo, dois anos depois.

© Todos os direitos do texto e fotos estão reservados para Hélder Dias da Silva
© General Moto, by Hélder Dias da Silva 2008

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois se bem me lembro, nessa viagem, vi muitas vezes, a vida a "andar para trás" ( principalmente a tua). Acho que a mota mais indicada para te ter acompanhado, teria sido a velhinha casal de 4 velocidades. Mas no final, até foi divertido.

Abraço,
HUGO
PS: Quanto ao frete de ir atrás, já me vinguei na viagem a Itália.